Para escrever Só para gigantes, o escritor barcelonês Gabi Martínez quebrou uma regra particular de trabalho segundo a qual ele não deveria, em hipótese alguma, arriscar a vida para conseguir uma história. Mas o apelo para contar a trajetória de Jordi Magraner foi maior. Este zoólogo aventureiro – de nacionalidade espanhola, mas nascido em Casablanca, no Marrocos, e criado na França – passou 15 anos pesquisando nas montanhas do Hindu Kush, no Paquistão, até ser encontrado morto, em 2002, ao lado de seu ajudante adolescente, Wazir Ali. Ambos foram degolados. O objetivo – ou a obsessão – de Magraner era investigar a existência do mitológico homem das neves, o yeti, ou barmanu, como é conhecido na região.
Autor dos livros de viagem Los mares de Wang e Sudd, este último publicado no Brasil pela Rocco, e referência do novo jornalismo literário espanhol, Gabi Martínez conversou com os habitantes de Chitral, teve acesso aos diários íntimos de Jordi Magraner e correu risco de vida ao visitar a tribo paquistanesa onde o zoólogo viveu para traçar o perfil desse cientista à moda antiga, aventureiro, romântico e contraditório.
Em tibetano, “yeh” significa “animal selvagem”; e “teh”, “lugar rochoso”. Existem milhares de depoimentos de pessoas que asseguram ter visto a criatura. As descrições mais ou menos coincidem: ela habitaria zonas de montanha elevadas e recônditas. Seu nome também muda: na América do Norte é conhecido como “bigfoot” (pé grande).
Para quem estranha o objeto de pesquisa de Jordi Magraner, o livro apresenta dados científicos que vão além da simples lenda: especialistas asseguram que no planeta há milhares de seres ainda desconhecidos do homem. São as chamadas espécies invisíveis que, contrariando as aparências, habitam enormes territórios sobre os quais pouco se sabe: a Papua Nova Guiné, o Amazonas, as barreiras de coral, as fossas oceânicas e a parte alta das grandes cordilheiras. Dedicando a vida a encontrar um monstro, Magraner acabou esbarrando numa espécie bem conhecida: o homem.
Na melhor tradição dos livros de viagem e também dos relatos de jornalismo literário e investigativo, Só para gigantes tem início sete anos depois da morte – anunciada pelos talibãs, mas até hoje não esclarecida oficialmente – de Jordi Magraner. Em busca de pistas, o autor chega à fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão num avião de hélices que sobrevoa a cordilheira com cerca de 40 picos com mais de seis mil metros e majestosos topos que abrigam lagos, geleiras, gargantas e bosques virgens. Lá embaixo, na região de Chitral, vive a comunidade dos kalasch, uma tribo de origem indoeuropeia que não comunga das tradições muçulmanas majoritárias no país. Os homens produzem e bebem vinho; as mulheres não só não usam véus como se maquiam. No meio deles, Magraner se estabeleceu, ajudando a preservar sua cultura ameaçada, e acabando por ficar ele mesmo ameaçado.
“Escrever a história de Jordi era uma aposta radical”, anota Gabi Martínez. “Sua aventura, sua obsessão não poderiam ser transmitidas com um mínimo de credibilidade sem eu viajar para o Paquistão, mais concretamente para a zona que os analistas políticos e militares ainda apontavam em 2009 como a base das operações da Al-Qaeda. E, ao descobrir que estava me propondo a visitar aquela versão ocidental do inferno, renunciando pela primeira vez a meus princípios de evitar as situações de risco evidente, ao comprovar essa mudança decisiva e, sobretudo, a necessidade de realizar aquela viagem, eu meu senti intimamente unido ao homem que investigava.”
O resultado revela um aventureiro como os de antigamente – espécie de David Livingstone dos tempos modernos – com seus sonhos, angústias e idiossincrasias, e cuja estranha grandeza se equipara à própria criatura, o yeti, que perseguiu sem encontrar.
ISBN-10: 9788532528155ISBN-13: 9788532528155Páginas: 416Autor: GABI MARTÍNEZGarantia: 3Altura: 5.00Comprimento: 40.00Largura: 30.00